Blogue do Movimento Quintano

Tema: Quinto Império enquanto destino de Portugal e do Mundo

Proposta prática para a refundação do Quinto Império de Vieira, Agostinho e Fernando Pessoa.

"Portugal será um dos países condutores do Mundo" Agostinho da Silva

terça-feira, março 28, 2006

O "Movimento Quintano" mudou-se!

Depois de várias frustações resultantes de erros cada vez mais frequentes no www.blogger.com onde está alojado este Blogue, decidi mudar-me para uma plataforma de Blogging que actualmente parece reunir uma grande aprovação na blogoesfera: a WordPress.

Decidi reunir no Quintus o conteúdo dos três blogues que vinha mantendo, o oGrunho com maior frequência (normalmente diária) e o Movimento Quintano e o SpaceNewsPt, com menor frequência. Assim, concentrei tudo no novo Quintus que responde no URL http://ogrunho.wordpress.com/ por uma questão de coerência, mas mudando o nome do Blog para algo mais "neutro".

Peço assim que tenham a paciência de actualizar os vossos links e de concentrar os três blogues no único blog que vou manter daqui em diante e que será:

http://ogrunho.wordpress.com/ (Quintus)

Esta página vai redireccionar o seu Browser para o novo Blog "Quintus" dentro de segundos...

sexta-feira, março 24, 2006

Agostinho da Silva: "Dos Dias Monótomos"

"É para todos os dias que precisas de educar e afinar a alma; é para te sentires o mesmo em todos os minutos que deves dominar os impulsos e ser obstinadamente calmo ante as dificuldades e os perigos, as alegrias e os triunfos."(...)"O que a vida apresenta de pior não é a violenta catástrofe, mas a monotomia dos momentos semelhantes; numa ou se morre ou se vence, na outra verás que maior número nem venceu nem morreu: flutua sem morte nem esperança. Nãte deixes derrubar pela insignificância dos pequenos movimentos e serás homem para os grandes; se jamais te faltar coragem para afrontar os dias em que nada se passa, poderás sem receio esperar os tempos em que o mundo se vira."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


Agostinho afirma neste passo que o verdadeiro "herói" não é o Homem dos momentos extraordinários, mas o Homem que enfrenta a monotomia do quotidiano com o mesmo vigor e objectivo. É para o dia-a-dia que devemos preparar e fortalecer o nosso coração, mantendo sempre o supremo objectivo que será, neste contexto quintano, o de instaurar o Quinto Império. As mais pequens acções, os nossos objectivos pessoais e os nossos desejos devem ser suplantados em favor desse objectivo maior e supremo que é o de fazer regressar a Portugal o seu verdadeiro e mais produndo objectivo que é o de desaparecer no seio do Quinto Império.

segunda-feira, março 20, 2006

Agostinho da Silva: "Da Emulação"

"Urge quanto antes alargar a reforma radical que as escolas novas fizeram triunfar na experiência; que só haja dois estímulos para o trabalho nas aulas: a comparação de cada dia com o dia anterior e com o dia futuro e o desejo de aumentar o valor, as possibilidades do grupo; por eles se terá a confiança indispensável na capacidade de realizar e a marcha irresistível da seta para o alvo; por eles também o sentido social, o hábito de cooperação, a tolerância e o amor que gera a convivência em vez do isolamento da caverna e de uma agressividade permanente; a vitória de uma ideia de paz sobre uma ideia de guerra."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


Eis mais um segmento agostiniano que aborda a questão da Pedagogia e da Educação. Agostinho da Silva condensa aqui aquelas que julga serem as duas grandes prioridades de um sistema educativo:

a) a melhoria do aluno, entendida como "superação de si mesmo" e a necessidade preemente de uma nítida sensação de "progresso" no Estudo. Isto é, o aluno deve sentir a cada dia, que aprendeu algo de novo, em relação a ontem, e que caminha progressivamente num caminho de progressão na senda do Entendimento de Si e das Coisas que o há de levar a um patamar superior de Si próprio. Assim, a Superação do Ego é alcançada através da Virtude, do Conhecimento e da sua interiorização.

b) nesta progressão para um patamar superior, o Si, deve agir em concordância, mais do que em concorrência com o Outro. A adopção das prioridades do Grupo, em lugar do mero e fátuo brilho do indíviduo devem prevalecer. Só assim se formarão adultos solidários e capaz de Compaixão e não as bestas individualistas e egotistas da actualidade. Só pela formação em Equipa, se poderão criar cidadãos verdadeiramente cívicos, que ponderem os interesses dos Outros com tanta consideração como ponderam os próprios. Contra a competição invidualizada e hierarquizada do ensino moderno, Agostinho contrapõe um ensino cooperativo e uma avaliação partilhada, criando um sentimento de Grupo e Comunidade em indíviduos a quem a natureza ilude com a grande ilusão da existência do Ego Individual.

sábado, março 18, 2006

Agostinho da Silva: "toda a oficina passe a ser uma escola"

"E quererá também que toda a oficina passe a ser uma escola." (...) "que se não esmaguem as faculdades superiores do operário sob o peso e a monotomia das tarefas sem interesse e sem vida; que se faça a clara distinção entre o homem e a máquina; que, finalmente, se ajude o trabalhador a encontrar na sua ocupação, em todas as ideias que a cercam e a condicionam ou que ela própria provoca, o Bem Supremo da sua vida e da vida dos outros."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


A Escola de qualquer actividade prática deve ser a própria fábrica. Agostinho, defende que um Ensino abstracto, teórico, não ou mesmo frequentemente anti-experimental e contra-vocacional deve ser abolido. O professor advoga a recriação de um sistema de ensino que promova a criatividade em lugar da memória, a praticabilidade em lugar da memorização mecânica de conceitos abstractos que não serão úteis na vida prática. O que Agostiunho defende é uma espécie de retorno actualizado ao modelo medieval do "Aprendiz" de Ofícios, em que havia uma ligação directa entre Mestre e Aprendiz e onde se conseguiam altos níveis de excelência e empenho. E por toda a "oficina" não quer o Professor reduzir apenas à "oficina", mas a toda e qualquer entidade empresarial, estatal, colectiva ou individual e privada. Todas as células económicas devem participar na formação e educação contínua dos seus membros e dos descendentes dos seus membros. Após um Ensino fundamental, onde se ensinem noções de escrita, leitura, matemática e de línguas, deverá suceder imediatamente um ensino de teor fortemente prático, exercito preferencialmente nas próprias empresas, e transferindo para estas o apoio estatal que hoje se dispersa numa rede ineficiente de escolas secundárias e de ensino superior. Umas e outras, devem ser reduzidas à sua expressão mínima e transmutadas em instituições de apoio, orientação, planeamento e consultoria para o verdadeiro sistema de ensino pós-primário: a Vida Real.

quarta-feira, março 15, 2006

Agostinho da Silva: "Projecto de um mestre" - 2

"Ora o mestre não se fez para rir: é de facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bens estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancos, saberá compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


Mais do que um simples "projecto de Mestre", Agostinho fala-nos aqui de um "projecto de Homem"... De um novo tipo de Homem que não receia ir contra as marés nem contra o pensamento dominante, e que não receia o rídiculo nem sequer o peso e a pressão da crítica, mas que resiste sempre de bom humor ao critico mais mordaz. Este novo Homem de Agostinho é ingénuo, ingénuo no sentido de que norteia a sua vida para a Justiça dos seus pares (que são todos os seres viventes, animais juntamente com homens). Budicamente, o Homem de Agostinho (atrevemo-nos a escrever Homo Agostinis...) inclui a ataraxia dos estóicos sem incluir a sua indiferença, mantendo a Compaixão dos Sutras sempre como sentimento dominante.

Um ideal inantígivel? Talvez... Mas um magnífico ideal, sem dúvida...

domingo, março 12, 2006

Agostinho da Silva: "Projecto de um Mestre"

"A sua [do mestre] terá sido miníma se o não moveu a tomar o caminho de um mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito chama; errou o que se fez professor e desconfia dos homens, se defende deles, evita ir ao seu encontro de coração aberto, paga falta com falta e se mantém na moral da luta; esse jamais tornará melhores os seus alunos; poderão ser excelentes as palavras que profere; mas o moço que o escuta vai rindo por dentro porque só o exemplo o abala."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


Este segmento pertence a um dos numerosos textos didácticos de Agostinho. A Pedagogia foi um dos seus temas favoritos e assim se compreende como também colocava a Educação no centro da vida social e daquilo que devia ser a actividade de um Estado. Escrito a pensar na vertente educativa da vida humana, o texto pode facilmente ser transportado para a vida política...

O "Mestre" seria assim o líder, ou líderes de uma nação. Não seriam "técnicos" ou "tecnocratas" como agora é moda designá-los, mas Homens, criaturas de coração, princípios e humanidade. Em vez de especialistas em ciências virtuais como a "Economia" ou a "Engenharia", seriam especialistas no Homem. Existe actualmente a obsessão de que só um "Economista" pode ser um bom político, e essa preferência popular é sinal dos próprios tempos em que o economicismo e o "pragmatismo" ocuparam todo o espaço da vida política.

Agostinho da Silva: "Eleição de Apolónio"

"Pois bem, Galileu: outra raça e outro século me deram existência: desde moço trilhei uma vereda diferente, a cada passo mais larga e mais plana; o meu ideal na vida, o norte mais distante mas seguro a que rumei foi sempre o de incluir, o de compreender o que de novo me aparecia na frente, não o de me salvar pondo de parte um qualquer elemento da minha humanidade. Não chegarei tão depressa onde tu vais, mas não terei deixado na minha viagens nenhum dos bens que possuía ao partir. Não é o meu lugar no paraíso que me interessa, mas a construção dum paraíso em que possam caber todos os homens e os seres que marcham sob a guia do homem e os que prendeu a natureza e os que se nos afiguram insensíveis e mortos. Decerto me hei-de salvar, mas só no dia em que puder."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


Recusa aqui neste passo, o professor "pôr de parte qualquer elemento da minha humanidade". Importa assim compreender o que é ser "humano" e que características são essas que distinguem a espécie humana das demais. É no recentramento sob o Homem que reside a verdadeira Salvação, prometida não no alto das estrelas, mas bem debaixo delas, entre os Homens e no mundo concreto e imediato em que vivemos. Essa reencontrada utopia é a da Paz entre os Homens e o Meio, compreendendo neste seres inanimados e animados. É no recentramento do Homem na Natureza, na vida em respeito permanente com a mesma, que o Homem pode mais facilmente tornar a sentir-se "natural".

Por isso, os métodos de exploração mecânicos e industriais da Natureza produzem todos os desiquilibros que agora começamos a observar com especial incidência. A Natureza não poderá suportar por muito mais tempo que uma das suas criaturas a transforme numa coisa, num mero objecto de exploração. A Revolução Industrial e a Revolução Agrícola têm que parar. Mas para que possam parar é preciso que pare antes a Explosão Demográfica, e que pare a fundo. Antes que a Terra fique mais danificada do que já está, e que se torne um inferno para o Homem, e que este seja forçado a reduzir forçadamente os seus próprios números...

sábado, março 11, 2006

Agostinho da Silva: " entregarmo-nos depois todos à divina ocupação de reflectir e discutir"

"[aqueles] que sonham com o século em que seja possível, feito rápidamente, em parte mínima do dia, o trabalho material que houver a realizar, entregarmo-nos depois todos à divina ocupação de reflectir e discutir, de passar em revista as doutrinas dos sábios e os interesses da cidade, de inventar, destruir e recompor o mundo dos sentidos e o mais puro universo das ideias. A fadiga que esmaga um corpo depois de oito ou dez horas em frente de um volante ou de um dia inteiro na faina do campo é um crime contra o Jeová que nos criou à sua imagem, um sacrilégio contra a partícula de fogo eterno que palpita por favor dos deuses em cada um de nós. O trabalho não é virtude, nem honra; antes veria nele necessidade e condenação; é, como se sabe, consequência do pecado original. A reconquista do Éden comportaria para o homem a libertação do trabalho, lavá-lo-ia dessa mancha de animal doméstico sob o jugo, havia de o restituir ao que é seu essencial carácter: o ser pensante."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


Eis aqui espelhada o pensamento polémico de Agostinho no seu melhor... Fracturante e enviesado às grandes correntes e ao Pensamento Único. Agostinho não pára perante nenhuma verdade assumida "universalmente".... Para o professor, o Trabalho não é fim-em-si da vida humana, nem sequer o Lucro, o motor principal da Economia, mas o Homem...

É certo que a espectacular mecanização crescente da produção industrial e agrícola tem aproximado de nós o Sonho agostiniano de uma "sociedade do tempo livre", mas tem também afastado muitos de nós do mercado de trabalho... Agostinho preferiria que essas pessoas não fossem dispensadas, mas que vissem o seu horário de trabalho reduzido para a mesma proporção do tempo recuperado pela mecanização e informatização das actividades económicas. Mas no mundo perverso em que vivemos, onde o Lucro e o "valor accionista" prevalecem sobre tudo, mesmo sobre o Homem ele próprio, em vez de ganhos de qualidade de Vida, vemos perdas, e perdas avassaladoras, que não raro, levam os mais frágeis até ao desespero do suicídio...

O sistema económico devia ser orientado para tornar cada um de nós proprietários em parte diversa da empresa onde labora. O cooperativismo de António Sérgio (que Agostinho conheceu pessoalmente na Seara Nova), pode e deve ser ressuscitado... O empregado-patrão da Cooperativa pode assumir assim o seu próprio destino nas suas próprias mãos, realizando o "Homem Pensador", sonhado por Agostinho, que obtenha finalmente tempo para pensar em Si, e na Sociedade que o rodeia, não se deixando mais enredar em popularismos e demagogias e tornando cada um de nós num filósofo ateniense que discursa na Ágora...

terça-feira, março 07, 2006

Agostinho da Silva: Temístio

"É certamente admirável o homem que se opõe a todas as espécies de opressão, porque sente que só assim se conseguirá realizar a sua vida, só assim ela estará de acordo com o espírito do mundo; constitui-lhe suficiente imperativo para que arrisque a tranquilidade e bordeje a própria morte o pensamento de que os espíritos nasceram para ser livres e que a liberdade se confunde, na sua forma mais perfeita, com a razão e a justiça, com o bem."
(...)
"Temístio, porém, coloca-se, creio eu, em plano superior; nenhum interesse pessoal o move porque para si mesmo já alcançou beatitude e a face serena dos eleitos; andam-lhe à volta as paixões e o seu espírito é calmo; ferem-no as pedras dos ataques e os seus lábios sorriem; palavras e gestos não lhe despeetam impulsos, mas razões."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


O maior combate pessoal que cada um deve travar é o combate contra todas as formas de Opressão, seja ela económica seja ela política. É necessário então combater todas as formas de organização económica que transformam o trabalhador numa simples e mecânica peça da organização e que lhe devolvam a Humanidade. Por isso é tão importante mudar o regime pseudoesclavagista chinês de exploração humana, com jornadas de trabalho de 12 e 16 horas, inexistência de férias e direitos laborais e proibição da greve. Por isso mesmo, também, é necessário todas as formas de opressão política, militar e económica que representam os regimes ditatoriais não democráticos de Esquerda e de Direita e as ocupações militares do Iraque, do Tibete e da Palestina.

segunda-feira, março 06, 2006

Agostinho da Silva: "Amor do Povo", parte 2

"Interessa-nos o povo porque nele se apresenta um feixe de problemas que solicitam a inteligência e a vontade; um problema de justiça económica, um problema de justiça política, um problema de equilíbrio social, um problema de ascensão à cultura, e de ascensão o mais rápida possível, da massa enorme até hoje tão abandonada e desprezada; logo que eles se resolvam terminarão cuidados e interesses; como se apaga o cálculo que serviu para revelar um valor; temos por ideal constuir e firmar o reino do bem; se houver benefício para o povo, só veio por acréscimo; não é essa, de modo algum, a nossa última tenção."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos

Agostinho lista aqui as vertentes principais de acção política que entende serem a prioridade de qualquer acção governativa:
1. Justiça Económica;
2. Justiça Política e
3. Ascensão à Cultura

Como saberão aqueles que lêm regularmente os nossos Posts o Movimento defende a redução do papel do Estado ao seu vector mínimo, a uma espécie de Minarquia. Este Estado "reduzido" manterá algumas funções dos Estados modernos, mas dedicará a sua energia principal e os recursos disponíveis a estas três áreas:
1. Procurando garantir e vigiar por uma justa e equitativa distribuição dos rendimentos do trabalho e do capital por investidores capitalistas e por trabalhadores
2. Procurará formas avançadas de representativa directa em todas as decisões políticas locais e nacionais que digam directamente respeito aos cidadãos
3. Alocará à Educação (crianças e adolescentes) e à Formação Profissional (adultos) a parcela de leão do seu orçamento.

Todas as demais actividades, além das da Justiça e da Defesa, serão preferencialmente entregues à iniciativa privada, sob a forma de pagamentos convencionados e de seguros de saúde, de emprego e de reforma protegidos por fundos governamentais públicos.

domingo, março 05, 2006

Agostinho da Silva: "Amor do Povo"

"Estes amam o povo, mas não desejariam, por interesse do próprio amor, que saísse do passo em que se encontra; deleitam-se com a ingenuidade da arte popular, com o imperfeito pensamento, as superstições e as lendas; vêem-se generosos e sensíveis quando se debruçam sobre a classe inferior"
(...)
"Há também os que adoram o povo e combatem por ele mas pouco mais o julgam do que um meio; a meta é o atingir o domínio do mesmo povo por que parecem sacrificar-se; bate-lhes no peito um coração de altos senhores; se vieram parar a este lado da batalha foi porque os acidentes os repeliram das trincheiras opostas ou aqui viram maneira mais segura de satisfazer o vão desejo de mandar"

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


Estes dois parágrafos isentam o pensamento agostiniano de qualquer vinculação à "Esquerda" ou à "Direita"... Associado à Esquerda depois do seu exílio forçado provocado pelo antigo regime Salazarista, Agostinho foi classificado como alguns como "Esquerdista". Associado à Direita por outros - porventura desiludidos com a sua falta de alinhamento - devido às referências frequentes de Agostinho a um "outro Portugal" e ao "Quinto Império", quiseram ver nele um Nacionalismo filiado à Extrema Direita e cometeram também eles o erro de enclausurarem Agostinho da Silva na apertada gaiola das classificações Direita-Esquerda...

Nada mais errado. Agostinho move-se acima destas limitações e bebe a maior parte da influência do seu pensamento político no Portugal Medieval, não em construções abstractas erguidas nos finais do Século XIX a partir do alinhamento (Esquerda) ou da Oposição (Direita) ao pensamento de Karl Marx.

Estas duas frases, escritas sempre naquele estilo simples e despojado a que nos habitou Agostinho, ilustram bem o que pensava o filósofo sobre aqueles que da Direita preferiam manter o Povo domesticado, mas contido, na suas capacidades e influência dentro da Sociedade, tornando-o numa coisa inferior e obviamente inferior à posição que eles próprios ocupam na Sociedade. O segundo parágrafo, critica a posição das "Esquerdas", onde em nome do Povo de estabelecem "Ditaduras do Proletariado" e onde em nome de Utopias futuras se realizam as maiores barbáries e sacríficios no cumprimento de uma verdadeira vocação parareligiosa que só pode ser satisfeita num Além, neste caso, no Além do Comunismo, que urge alcançar a todo o custo, sobre todos os sacrifícios e incluindo nestes a Liberdade Individual, a Liberdade de Expressão e todo o mais que se julgar necessário sacrificar.

Na verdade, uma e outra formas de encarar o Povo (este capítulo chama-se muito apropriadamente de "Amor do Povo") são formas de exercer o "Mando", meios apenas para obter um fim, que é o Poder. Pretextos, para manter o "Povo" submisso e subalterno, em diferentes modelos de sociedade, mas semelhantes, na existência de uma Élite detentora única do Poder, que exerce a seu bel prazer, a pretexto do "Bem Comum" que só ela se julga capaz de identificar.

Essa Élite existe hoje em Portugal. E exerce o seu mando a partir do Parlamento, dos Media, da Presidência, dos Tribunais... É essa Élite que tem mantido Portugal pequeno e submisso, para que ela própria possa continuar a exercer o seu Império.

quarta-feira, março 01, 2006

Agostinho da Silva: Sobre o conceito de "Virtude"

Virtude: "(...) Dando-o como o desejo de superar e não como o desejo de combater; mas de propósito fiquei no que a virtude tem de luta entre a natureza e a vontade."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


Nesta descrição fica condensada a expressão de pacifismo de Agostinho e a afirmação de que o combate que o Homem deve travar, é contra si próprio e não contra os outros Homens, o que aliás está nos antípodas da interpretação que Maquiavel tem do mesmo conceito de "Virtude" (Agostinho critica Maquiavel o "Maquiavelismo" na política em várias ocasiões).

Para o Professor, Virtude é Superação, superação no Homem da sua Natureza animal e imediatista, por intermédio de uma vontade férrea e determinada de superação de si mesmo.

terça-feira, fevereiro 28, 2006

Agostinho da Silva: "É o Império do Espírito Santo entre os homens"

"É o Império do Espírito Santo entre os homens. É não perder nenhuma das características de ser homem e ganhar todas as que se atribuem a Deus. Porque os homens ali, como se vê pelo seu comportamento com as ninfas (Agostinho refere-se aqui ao episódio da "Ilha dos Amores" de Camões), são plenamente homens, comem e bebem no banquete, mas depois estão fora do Tempo e fora do Espaço, como está Deus."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


O Império do Espírito Santo é aqui um sinónimo de "Quinto Império". Esta será o Reino da Transcendência, onde o Homem se ultrapassa a si mesmo e deixa de ser Homem. Para Agostinho, a verdadeira função do Homem, o seu vero destino é deixar de o ser, e ultrapassando-se, divinizar-se tornar-se Sobre Humano. O Homem pleno, cumpridor de todas as promessas de fraternidade e universalismo antevistas pelos visionários do Quinto Império, desde Vieira a Pessoa, passando por Bandarra é o Sobre Humano de Agostinho, o Homem do Império do Espírito Santo e contemporâneo e fundador do Quinto Império.

sábado, fevereiro 25, 2006

Agostinho da Silva: "A Europa não presta para nada"

"...A Europa não presta para nada, a Europa não se entende, porque se está a querer fazer uma coisa nova numa trapalhada velha... São aqueles Estados centralistas do Luíx XI, e aquela coisa toda... O que se deve é chegar a outra coisa muito mais importante: à liberdade cultural de cada homem! Já não se trata de esta região ou aquela ser desta ou daquela maneira: trata-se de ser à sua maneira cada pessoa! Temos de levar o mundo a um tal tipo de organização que permita a identidade cultural de cada homem, sem sofrer nenhuma espécie de atropelo."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos

Por "Europa" Agostinho não se referia directamente nem aos povos que compoem o Continente, nem sequer as suas Nações, mas a União Europeia que agora tenta vestir o nome "Europa", com dignidade e autoridade duvidosa. É à União Europeia verdadeira caótica manta de retalhos onde cada retalho tenta imprimir uma maior força centrífuga à rotação do todo em torno da eurocracia de Bruxelas que Agostinho da Silva critica. O professor não reconhece numa Europa de interesses contrários e egoístas a viabilidade para a construção de um verdadeiro modelo europeu de Futuro, e nós também não... Esta Europa não passa de uma Federação de interesses de uns poucos, que serve escassos à custa dos muito, sacrificando o Sonho dos pais fundadores da CECA.

Agostinho acreditava que o verdadeiro núcleo de uma Europa recentrada sobre si mesma, e humanizante e não maquinista estava muito mais no Homem, do que no "Estado". Defendia assim uma descentralização absoluta, reduzindo os níveis multiplos que separam o cidadão do decisor e a armação política que ergueram em torno de nós para nos afastar da política e tornar a Democracia cada vez mais "representativa" e menos "participativa".

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Agostinho da Silva: "o povo português achou que digno de imperar no Espírito Santo era a criança"

"Então, o povo português achou que digno de imperar no Espírito Santo (quer dizer, de ser o Rei, a figura principal do império futuro, da futura idade do mundo), era a criança. Com a sua imaginação, a sua alegria, a sua capacidade de perguntar, todas essas coisas."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos

Seria assim esta a imagem que deveriamos transportar em nós como ideal humano. O Quinto Imperador é uma espécie de projecção daquilo que cada cidadão deve procurar cumprir. Os conceitos principais do Homem novo (mas renovado) de Agostinho surgem aqui muito claramente enunciados:
Imaginação
Alegria
Capacidade de Perguntar

Predomínio da Imaginação sobre a Memória; privilegiando um ensino novo sobre a Escolástica e os métodos convencionais de Ensino ainda em uso extenso pelas nossas Universidades e Escolas.

Predomínio da Alegria sobre a Melancolia, tão favorecida pela presença opressiva do Catolicismo na Alma Portuguesa.

Predomínio da Interrogação sobre a Realidade e o Eu, contra a vã, muda e cega aceitação automática das "Verdades" que nos são impostas a partir do Exterior, nomeadamente a partir da Europa e de Além dos Pirinéus. Recentramente do Homem na Economia e Reposicionamento da Cultura Portuguesa sobre o seu centro medieval e mais profundo.

Portal da Língua Galega

No Portal da Língua Galega encontramos diversa informação sobre o nosso irmão portugalês do Norte e sobre o movimento reintegracionista.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Agostinho da Silva: "A bela colcha de retalhos que é a Península"

"A bela colcha de retalhos que é a Península! E vamos insistir nisso: A Galiza tem que ser independente da Península e uma pedra no seu mosaico. Como tem que ser a Catalunha, como tem que ser o Algarve, como têm que ser os Açores ou as Canárias, exactamente isso. E vamos ver se isto não será um bom xarope, um bom tónico, para a Europa tomar e se deixar das besteiras em que anda. Vamos ver como é isso da entrada de Portugal na C.E.E. Se é um bebé que vai acolher nas mãos de uma ama ou se é, pelo contrário, alguém, a Península, que vai dizer à Europa como é que ela tem que se humanizar. Como é que, estragada porque andou toda a vida pensando em computador, vai parar dessa história e vai voltar atrás para retomar do humano tudo aquilo que perdeu em função da eficiência e do êxito."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos

Agostinho defende aqui a pulverização da "Espanha" num conjunto de pequenas nações independentes e agregadas depois numa Federação Portugal onde poderá depois alinhar Portugal, quer no seu todo, quer na forma das diversas regiões em que se divide. Neste aspecto, o professor é um percursor daqueles que hoje defendem uma "Europa das Regiões", como forma de aproximar os Estados dos cidadãos e como meio de aumentar a justiça económica e social.

Agostinho torna a criticar aqui muito severamente os modelos utilitaristas e individualistas que moldam hoje o projecto europeu e a própria União Europeia. Acusa os criadores dessa Europa de "maquinismo", isto é, de fascínio, pela parte exterior e mecânica da vida desprezando a liberdade criativa e o comunitarismo que marcaram boa parte da nossa Idade Média e que deram a Portugal a própria Gesta dos Descobrimentos, enquanto a Europa enriquecia e engordava com as nossas especiarias.

Por isso, Portugal nunca poderá ser tão eficiente e bem sucedido como os países do Norte da Europa e por isso, toda esta obsessão em tornar um país "convergente" com a Europa e com os seus níveis de vida e padrões de crescimento é fátua e desesperante... Porque Portugal não pode funcionar no mesmo nível de registo. Portugal não é um País, mas uma Ideia, que só pode ser cumprida na Transcêndencia de Si mesmo e na sua própria anulação, dando corpo primeiro a uma Federação Mundial que terá forçosamente que começar reunindo os membros da Diáspora Portuguesa no Mundo e começando pela ReUnião dos dois braços lusitanos que se estendem pelo Mar Oceano: Portugal e Brasil.

Agostinho da Silva: "Como essa história da Galiza"

"Como essa história da Galiza. Como é? Separados ainda pelo rio Minho? Como é isso? Para mim não tem importância nenhuma estar separado ou não estar separado, porque estamos separados de outros lugares por coisas mais importantes do que o rio Minho, pelo Atlântico e pelo Pacífico. O mundo é uma ilha; o mundo é um arquipélago, e tanto faz que os intervalos de água sejam grandes ou pequenos. É um mundo arquipelágico que nós temos de digerir e pensar e compor. Não vamos agora querer que a Galiza pertença a Portugal ou que Portugal pertença à Galiza; vamos entender que há uma cultura galega como há uma cultura do Minho, como há uma cultura do Algarve, vamos mas é entender as culturas peninsulares."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos

Portugal sofre do estranho destino de só começar a ser Portugal, quando efectivamente o tiver deixado de ser... Portugal é mais ideia que um Estado, uma ideia de "Imperii Mundi" que se estenda por todo o mundo, abarcando todas as nações e credos, numa concretização do Paracleto que só um país mestiço e transitório como Portugal pode cumprir. Sem o estigma de riquezas naturais que nos tornem materialmente ricos, sem a herança do Capital acumulado por séculos de saque em todo o mundo que explicam boa parte da riqueza da Europa doo Norte, Portugal está livre das amarras materiais que prendem outros à escravidão do concreto e do prático. Povo sonhador por excelência, compartilhando essa característica com os Nordestinos e com os Irlandeses (com os quais estamos aparentados), os Portugueses têm essa estranha característica de viverem num país que não tem - nem nunca teve - condições para ser bem sucedido no mundo da matéria e dos indicadores macro económicos, porque Portugal, encerrado nas suas fronteiras europeias, não têm viabilidade económica como País. A viabilidade de Portugal é tão somente, o Caminho para a União Universal, para agindo como o portaestandarte das legiões levar a todo o mundo a Ideia de Quinto Império que reunirá todos os países do mundo sob a mesma Federação de Povos que Vieira sonhou e que o Menino-Imperador dos rituais do Espírito Santo realizará.

Agostinho da Silva: "Portugal já civilizou a África, a América e a Europa. Falta agora civilizar a Europa."

"Portugal já civilizou a África, a América e a Europa. Falta agora civilizar a Europa."
Caetano Veloso , citando Agostinho da Silva

O professor não queria aqui dizer que a África, a América e a Europa não fossem civilizadas. Óbviamente que o eram... É inútil referir os exemplos das brilhantes civilizações maias e incas nas américas, ou do zimbabué e do egipto ou mesmo da China e da Índia... O que o professor referia era a "civilização ocidental" que se impôr, mais os seus paradigmas e objectivos por todo o mundo, num movimento que os Portugueses precederam e que levou à Globalização de hoje. Quando vemos um homem de negócios chinês ou iraniano usar o fato e gravata europeus, sabemos do que falamos...

Não, Agostinho referia-se a outra "civilização", bem diversa... Referia-se ao galopante egoísmo, funcionalismo e ao utilitarismo da civilização do norte da Europa, extrapolada até esse seu prolongamento que são os Estados Unidos. Opunha a estes paradigmas, a fraternidade e a liberdade criadoras, substanciados no comunitarismo e municipalismo da Idade Média Portuguesa escrevendo que "cada povo é o que é, mesmo antes de o ser" e que Portugal seria "não propriamente um determinado país, (...) mas uma ideia a difundir pelo mundo".

 
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